A Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou o início do primeiro evento El Niño em sete anos, prevendo 90% de probabilidade de ocorrência ao longo de 2023. O fenômeno é caracterizado pelo aquecimento incomum do Oceano Pacífico com potência moderada e tem impactos significativos na produção global de alimentos, pois causa mudanças climáticas e traz clima mais quente e seco para países como o Brasil, a Austrália e a Indonésia, aumentando o risco de incêndios florestais e secas.
Embora o El Niño possa reduzir a produção agrícola média, não tem gerado uma “tempestade perfeita” capaz de causar choques na produção dos cereais básicos em escala global. No entanto, os efeitos locais podem ser graves, afetando produtos restritos a áreas geográficas específicas, como o óleo de palma da Indonésia e da Malásia. Em algumas regiões, a disponibilidade e a acessibilidade dos alimentos podem resultar em consequências sociais sérias, como conflitos e fome.
Quanto ao impacto sobre os preços globais dos alimentos, um índice que acompanha as alterações mensais dos preços internacionais de uma cesta de alimentos básicos mostra um padrão inflacionário geral dos alimentos, mas poucas oscilações nos anos de ocorrência do El Niño. Outros fatores causados pela atividade humana, como crises financeiras, parecem influenciar mais os preços do que o próprio El Niño.
Já em relação à oferta de trigo, o El Niño causa redução da produção agrícola, especialmente na Austrália, um dos principais exportadores de trigo do mundo. No entanto, a produção australiana representa apenas cerca de 3,5% da produção mundial total de trigo, e as perdas tendem a ser compensadas pelo aumento da produção em outras regiões importantes produtoras de trigo, como a Argentina. Em geral, a maioria dos anos de ocorrência do El Niño apresenta um equilíbrio entre a queda da produção em algumas regiões e o aumento em outras.
Em suma, o fenômeno do El Niño tem um impacto significativo na produção global de alimentos, com efeitos variados em diferentes regiões do mundo. Embora possa não causar grandes oscilações nos preços globais dos alimentos, suas consequências locais podem ser sérias, afetando a segurança alimentar e a vida das populações vulneráveis.
Fonte: The conversation